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Selecionamos algumas matérias retiradas de jornais paranaenses entre os anos de 1895-1938, que podem ajudar a solucionar o caso. 

Matéria retirada do jornal "Diário da Tarde" de 20 de maio de 1904.

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Transcrição do jornal:

Data angustiosa

   "Triste, angustiasa a data de hoje para a família paranaense. Ela relembra bárbara e horrenda cena desenrolada no silêncio da noite tenebrosa, e que determinou o sacrifício de vidas preciosas, atirando ao luto distintas famílias patrícias.

Foi uma tragédia espectral, sem nome, que repercutiu por todos os recantos, enchendo de pavor e tristeza as almas sãs, maculando a branca página então da história paranaense.

   O Barão do Serro Azul, comendador Prescilliano da Silva Correia, Rodrigo de Mattos Guedes, Balbino de Mendonça, José Lourenço Schleder e José Joaquim Ferreira de Moura, eis os nomes dolorosos das criaturas trucidadas no quilômetro 65 da estrada de ferro do Paraná, em a noite de 20 de Maio de 1894.

   Sobre o sinistro fato uma década há passado, mas cada vez que a imaginação vaga, inquieta e aflita, por esse passado sombrio, sente verdadeiro horror sem saber como qualificar esse monstruoso massacre; a pena treme-nos nas mãos nervosas e nosso coração ajoelha-se ante a memória puríssima dos mártires inesquecíveis.

   Em crepe envolve-se o coração paranaense.

   Oh! Desventuradas criaturas, mortas sem piedade, longe dos entes queridos na quebrada deserta da montanha, tivestes como respostas da vossa dor o eixo longínquo e lancinante da vossa própria voz, no momento extremo do sacrifício.

   Mas os vossos nomes são hoje guardados na veneração sagrada das almas nobres, o vosso martirológico está gravado na história para eterna tortura dos mandantes e algozes."

- Pericles

DATA angustiosa. Diário da Tarde, Curitiba, ano VII, n. 1.590, p. 1, 20 maio 1904. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx. Acesso em: 27 nov. 2018.

Matéria retirada do jornal "Diário da Tarde" de 20 de maio de 1935

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Transcrição do jornal:

OS FUZILAMENTOS DO QUILOMETRO 65

RECORDANDO OS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS DE 20 DE MAIO DE 1894, FALA AO "DIÁRIO", FAZENDO REVELAÇÕES INTERESSANTES O MAQUINISTA DO COMBOIO DA MORTE.

"Fazem hoje 41 anos que se cometeu o maior crime registado na história da política do Paraná. Na Serra do Mar, no quilômetro 65, foram fuzilados sumariamente os paranaenses dignos, chefes de famílias exemplares, homens de caráter e de bem, morreram estupidamente na manhã fria de 20 de maio de 1894.

Recordando a emocionante tragédia que enlutou a família paranaense, vamos transcrever uma página do drama da Serra, escrita pelo Sr. Jacques Ouriques:

- No sobrado da rua América, esquina com a 13 de maio, em frente ao quartel do 17º, achavam-se acumulados, a 20 de maio, sem a menor comodidade, vários cidadãos que haviam sido violentamente presos e para ali brutalmente arrastados.

Nesse dia pela manhã foram alguns presos avisados que seriam em breve conduzidos para a Capital Federal.

O Barão do Serro Azul pediu e obteve a graça especial de mandar buscar recursos pecuniários a sua casa. Por volta das 10 horas da noite apresentou-se no quartel um oficial que separando o Barão do Serro Azul, José Lourenço Schleder, José Joaquim Ferreira de Moura, Rodrigo de Mattos Guedes, Balbino Carneiro de Mendonça e Prescilliano Correia, declarou-lhes que seguissem imediatamente, a fim de tomar o trem que os devia conduzir a Paranaguá, sem dar lhes tempo sequer a que se vestissem, levando com as roupas, apenas, com as que haviam levantado das miseráveis taboas onde dormiam. A noite era chuvosa e escura.

Os presos seguiram a pé para a estação de Ferro, José Moura que havia alguns dias se achava doente, ia amparado por não poder caminhar sozinho. Ao chegarem a rua São Francisco teve um sincope e não pode ir andando.

Nesse momento acercou-se um dos oficiais de ronda da cidade e ponderou ao comandante de escolta que os presos estava quase morto e que era melhor fazê-lo voltar.

Reconduziram-no para a casa da rua América, porém algum tempo depois, foi um carro busca-lo, embarcaram-no brutalmente ao próprio colchão em que jazia desfalecido e partiu ao mesmo trem.

O comboio tomou direção de Paranaguá pouco antes das 11 horas. Parou por engano o trem no quilômetro 65. As vitimas paradas ofegantes, tremiam de frio e de terror. Alguns de joelho, pediam, imploravam que não os matassem. Tudo em vão. Uma descarga despertaria os eixos dormentes da serra e a cena lúgubre começou.

O Barão do Serro Azul ao chegar no lugar de suplicio caiu de joelhos e orou. As balas fratricidas cortaram-lhe em meio a vida e a prece. O moço Mendonça alucinado pelo terror, negou-se a sair do vagão. No momento de descer agarrou-se com toda as forças a colunas da plataforma. Quebraram-lhe a coice de armas os punhos; Mattos Guedes ofegante, louco de pavor, recebeu uma descarga que o prestou, levantou-se em seguida, mal ferido, tropeçando, cambaleando, tentou fugir pelo abismo a baixo. Nessa tentativa recebeu nova descarga que o findou de vez.

Paramos aqui. Basta de horrores. Dá-nos com profunda e lancinante de todos os sofrimentos humanos a narração desta páginas, a mais negra que poderiam escrever na história da Pátria, as armas daqueles que juraram defender-lhe a dignidade e proteger o povo.

OUVINDO O MAQUINISTA QUE CONDUZIU O COMBOIO DA MORTE

No afago de proporcionar ao público uma reportagem completa sobre o drama da Serra, fomos ouvir hoje pela manhã o sr. Albino Lipmann que, como maquinista, conduziu o trem até Morretes.

Em sua residência particular, à Rua Barão do Rio Branco, fomos entrar uma das testemunhas que assistiram o bárbaro fuzilamento.

Estava o velho Lipmann, que hoje com 70 anos, serrando lenha. Dizendo que íamos entrevistado se pôs a nossa disposição narrando os acontecimentos que se deram na madrugada de 20 de Maio de 1894:

– Chegando de Paranaguá com um trem de passageiros – declarou-nos o maquinista – teve ordem de seguir com o trem especial que deveria conduzir os presos. As 11h o comboio se pôs em movimento. Antes, porém, acidentalmente, acompanhei os presos que saíram de um prédio da rua Marechal Floriano Peixoto, esquina com a Pedro Ivo. Ao partir recebi ordem de não parar em nenhuma estação, o que atendi.

No quilometro 65, na ocasião em que o comboio atravessava o túnel, fui despertado com o sinal de alarme para parar o trem. No momento não pude atender porque o comboio se encontrava no túnel. Mais alguns metros o novo sinal foi dado. Não sabendo o que se passava obedeci a transmissão. Isso já fora do túnel. Abandonando a maquina fui saber do oficial que comandava a escolta o que havia acontecido. Este me respondeu grosseiramente, ordenando que voltasse ao meu posto. Nesse momento assisti, revoltado o fuzilamento de três presos – Barão do Serro Azul, José Schlder e Prescilliano Correia.

O capitão da escolta, vendo me ao fundo mandou que um soldado me escoltasse até a máquina.

– Ouviu algum dos presos falar?

– Sim. Escutei quando o Barão se ajoelhou e pediu que não o matassem, comprometeu-se a repartir a sua fortuna com os comandantes da escolta. Quanto aos demais nada ouvi.

– Vi quando José Schleder pulou a janela e se jogou no abismo, onde recebeu a carga. Os soldados que compunham a escolta recusaram a atirar tanto assim que os primeiros disparos foram feitos para o chão. O capitão notando a atitude da tropa desembainhou a espada colérico gritou “Atirem senão eu te mato”.

Horrorizado nervoso assisti aquele triste espetáculo sem nada poder fazer.

Cometida à cena tive ordem de seguir viagem. Em Morretes entregando meu posto ao maquinista José Humphreys, escondi-me no canavial com receio de ser preso. Pela manhã do dia seguinte voltei à Curitiba e ao chegar no local do fuzilamento pude ver os corpos das vitimas. Apenas um estava com vida. Era José Schleder. Esse moço achava-se ainda de pé agarrado numa árvore conhecida por “pau de leite” arqueado de dor. O corpo de Prescilliano Correia ainda se encontrava no leito da estrada, com uma perna pendendo para o abismo. Pude observar que o Barão havia recebido dois tiros, um na virilha e outro no rosto, entre o nariz e a boca.

Esse drama deu-se num sábado frio e chuvoso e era meu foguista sr. Daniel Santos. O comboio não tinha chefe de trem. Quem mandava na composição era o comandante da escolta, composta de 12 praças. Seis ficaram dentro do vagão empurrando os presos e os outros seis fuzilavam aqueles homens inocentes.

Satisfeito com o que havíamos colhido retiramo-nos agradecendo o sr. Albino Lipmann por nos ter proporcionado dados importantes desconhecidos dos historiadores que escreveram o horrível drama da Serra.”

OS FUZILAMENTOS do quilômetro 65. Diário da Tarde, Curitiba, ano XXXVII, n. 12.689, p. 1, 20 maio 1935. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx. Acesso em: 27 nov. 2018.

Matéria retirada do jornal "Correio da Tarde" 31 de maio de 1895.

correio da tarde. 31-05-1895 p.1.jpg

Transcrição do jornal:

HORRORES DO PARANÁ.

"O primeiro que saiu do trem foi Barão do Serro. Este cidadão n'um transe supremo esforço, procurou convencer a escolta que não tinha crime, pedindo que lhe poupassem a vida, pois tinha filhinhos a criar e largas operações comerciais a liquidar. Ele daria sua fortuna para o que deixasse escapar. O comandante de escolta, porém nada o atendeu, declarando que cumpria ordens. Vendo que nada conseguia, o Barão disse que queria rezar antes de morrer, e no momento em que punha os joelhos em terra uma descarga prostrou-o ali mesmo.

Em seguida foi executado o cidadão Prescilliano da Silva Correia, que articulou estas palavras: “Ah! Humanidade! Humanidade!”.

José Moura teve nova sincope e morreu talvez sem sentir comoção alguma.

Mattos Guedes, desnorteado pelos horrores que presenciava, atirou-se pelo despenhadeiro abaixo. Porém uma descarga surpreendeu-o em meio a queda. Este cidadão segurou em uma forquilha de arvores que vegetavam no abismo.

Schleder atirou-se também pelo despenhadeiro, mas foi apanhado por uma descarga de seis tiros. No momento de precipitar-se disse: “Bala de pica-pau não me mata”.

Balbino de Mendonça, tímido como uma criança, agarrou-se fortemente na plataforma do trem, sem que houvesse força humana capaz de tirá-lo d’ali. Quatro soldados quebraram-lhe os pulsos com coronhadas de espingarda, descarregando depois o tiro mortal.

HORRORES do Paraná. Correio da Tarde, Rio de Janeiro, ano III, n. 479, p. 1, 30 maio 1895. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx. Acesso em: 27 nov. 2018.

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